Azul

Plena terça-feira você pode sentar no "Durva", uma padaria, tomar uma cerveja e acompanhar o movimento da Vicente Machado, por lá passam bêbados, boêmios, patricinhas, playboys, garis, maconheiros, pedreiros, patricinhas, playboys, senhoras, promiscúas, patricinhas, playboys. Sim, patricinhas e playboys por volta das 23:00 se encaminham a um lugar com cores azuis em seu luminoso. Realmente parece ser uma balada, e um comentário na mesa: "ali você paga cinquentão prá entrá" outro diz: "é, mas arregado é pegar camarote, você paga cem reais de consuma".
Agora você pensa que sim, realmente cem é mais do que cinqüenta, mas você consome tudo, logo compensa, não?
Mas o Bóca, ele paga "cinquentão", porque o que vale é estar lá ver gente bonita, porque pro Bóca cem reais é mais do que ele ganha na semana, então ele gasta os cinquenta no crédito e compra algumas long-necks escutando o que tem de melhor da música eletrônica, afinal música eletrônica é música moderna e dá para dançar. E o Bóca adora dançar essas músicas com as mulheres loiras e morenas que antigamente usavam topetes, ele seduz as mulheres com sua conversa maravilhosa e com seu carro que ainda não terminou de pagar. Todos sabem quem o Bóca é, as dividas que tem, ganha num mês pra pagar o anterior e no fim do ano o décimoterceiro não cobre 1/3 das dívidas do cartão, mas dará pra continuar a desfrutar dos prazeres da mentira e esbanjará seus bens materiais. O materialismo não está em ter, mas sim em mostrar o que tem, por menos que o tenha.
No lugar azul, todos mentem, ou melhor, recitam o texto, um teatro maravilhoso que você pode participar, tomar da melhor droga e beber a melhor bebida, no lugar azul você fará seu papel e soltará belos sorrisos. Curitiba é um imenso palco, e o CuritiBóca é o protagonista.
Viva o Bóca e viva as boates azuis da Vicente Machado.